Covid-19: Festas populares e festivais provocaram 340 mil casos
(Agência Lusa)
(Fotografia: Tomorrowland)
As festas populares e os festivais de música que decorreram durante o mês de junho, com destaque para o Rock in Rio, provocaram cerca de 340 mil casos de covid-19, estima o relatório do Instituto Superior Técnico (IST).
Ao longo dos cerca de três meses desde o início da sexta vaga da pandemia, entre 25 e 26 de abril, Portugal registou um total de 1.363.000 casos e 2.331 óbitos associados à covid-19.
O balanço é feito num relatório do IST, a que a Lusa teve hoje acesso, e que analisa a sexta vaga de covid-19 em Portugal, coincidente com o alívio de medidas restritivas e o regresso das festas populares e dos festivais de música.
No último relatório, os peritos antecipavam que a realização destes eventos, sem máscaras nem testagem, resultasse em 350 mil contágios diretos no país. A realidade ficou ligeiramente abaixo, mas não muito distante.
De acordo com as estimativas mais recentes, houve cerca de 242 mil casos de covid-19 registados oficialmente devido às festividades dos santos populares e festivais como o Rock in Rio.
“Se juntarmos os casos não reportados oficialmente atinge-se o número de 340 mil”, refere o relatório, produzido por Henrique Oliveira, Pedro Amaral, José Rui Figueira e Ana Serro, que compõem o grupo de trabalho coordenado pelo presidente do Técnico, Rogério Colaço.
Comparando com um cenário em que se manteria a testagem e a obrigatoriedade do uso de máscara em grandes eventos, a incidência estimada durante o mês de junho seria inferior, referem os peritos, que sublinham que as medidas “não teriam impacto económico”.
Além desses eventos, o relatório recorda que a sexta vaga coincidiu também com o alívio de medidas restritivas e entre os dois fatores o documento aponta mais 646 mil casos de contágio pelo SARS-CoV-2.
Incluindo os casos não reportados, esse número aproxima-se dos 900 mil.
Mantendo as medidas sem impacto económico, designadamente o uso de máscara e a testagem gratuita, ter-se-ia registado igualmente uma sexta vaga, devido à variante Ómicron, mas “os seus efeitos seriam cumulativamente menores e a descida seria mais cedo e mais rápida”.
Em relação aos óbitos, os peritos apontam a morte de 790 pessoas com covid-19 devido ao levantamento das restrições e às festividades, dos quais 330 associados às festas populares de junho.
“O efeito aqui é mais lento e menor do que o efeito das medidas gerais, pois afeta diretamente população mais jovem, mas leva a contágios em cascata que acabam por vitimar os mais suscetíveis a doença grave”, sustentam, em referência às festas populares.
Numa avaliação global da sexta vaga, os peritos esclarecem que se deveu sobretudo à nova linhagem BA.5 da variante Ómicron do SARS-CoV-2 e referem que a situação epidemiológica atual já revela uma tendência decrescente.
Ao longo dos últimos três meses, a letalidade registou uma subida mais acentuada em meados de maio, tendo estabilizado depois em valores ligeiramente abaixo de 0,2%, refletindo os efeitos do reforço vacinal, e situa-se atualmente nos 0,17%.
No entanto, o grupo de trabalho ressalva que, olhando para a letalidade, parece notar-se “uma possível correlação com vagas de calor”.
Atualmente, o índice de transmissibilidade (Rt) fixa-se nos 0,90, em descida lenta devido “ao alívio de medidas e dos contágios de junho que se repercutem em cascata em julho, o que retardou a descida prevista da incidência”.
Ainda assim, e face à atual situação do país, o Indicador de Avaliação da Pandemia (IAP) do IST e da Ordem dos Médicos está nos 63,8 pontos, abaixo do nível de alarme e “com tendência de atingirmos os valores mais baixos de 2022”.
O IAP combina a incidência, a transmissibilidade, a letalidade e a hospitalização em enfermaria e em cuidados intensivos, apresentando dois limiares: o nível de alarme, quando atinge os 80 pontos, e o nível crítico, quando chega aos 100 pontos.
Apesar da redução significativa do perigo pandémico, os peritos reforçam a recomendação do uso de máscara em situação de maior risco de contágio e o reforço da monitorização a partir do mês de setembro, alertando que “ter excesso de confiança é o risco que Portugal corre”.